sábado, 27 de novembro de 2010

Texto do Francisco Duarte Guimarães

Imagem do Real


Se eu disser uma coisa ninguém acredita - e logo eu. Editor do semanário Jornal de Natal! - não conheço pessoalmente o maior e mais talentoso ilustrador do JN dos últimos anos e que agora, em parceria conosco, lança este álbum. Venâncio Pinheiro.
Não por falta de tempo ou modéstia de ambas as partes, mas por absoluta falta de oportunidade, mesmo. Venâncio já fez várias estripulias, exposições, campanhas etc., e nós nunca nos encontramos. Nem mesmo nos bares da vida.
Mas, pelo menos da minha parte, tenho um privilégio: já me deparei (ou me encontrei, se quiserem) por várias vezes com o que há de mais íntimo no ser do artista Venâncio: a sua arte, que nos revela segredos de sua alma, de suas idéias, de sua psique - e, agora, logo ele, que ilustra as dezenas de artigos do psiquiatra Maurilton Morais, nosso amigo e colaborador, que tantos mistérios sabe da alma humana.
E o que nos revela esta arte? Tecnicamente não sou a pessoa mais indicada para falar, mas diria, com todo sentimento, que a produção artística de Venâncio Pinheiro é uma eterna obra de inquietação com o real, com as dores, o sofrimento, algo que denuncia os absurdos da fome, da miséria, e por outro lado a gula do insaciável, igualmente absurda.
E Venâncio faz isso nos revelando ainda uma expressão pelo sensual, em alguns casos com a imagem de nus (como se nos apresentasse algo irretocável, a verdade sem máscaras, despida, onde todos nos encontramos) misturando tudo num caldeirão que dispõe de manchas, retículas e letras - como se nos quisesse dizer alguma coisa também com palavras, reclamar, abrir nossos olhos.
A presença do mundo real se faz sentir em todos os sentidos. Desde quando em muitos casos se utiliza de imagens foto-símbolo-dramáticas do cotidiano, estigmatizadas, quem sabe até para chocar ainda mais, com o preto-no-branco, nu e cru, do qual nos fala Eládio Barbosa sob um outro aspecto, até quando recorre ao computador, essa maquininha moderna, para intermediar a elaboração forte de suas imagens.
Neste conjunto não existe nada de elástico, aquoso, sujeito a transformações, porque é indubitável, com elementos de uma retórica irretoquível, inquestionável, eloquente, estilhaços de vários espelhos que, mesmo refletindo imagens ora completas ora incompletas, são reflexos sobreintermontados do real.
Neste álbum com o qual Venâncio nos brinda, e que, em parceria, o Jornal de Natal oferece agora aos seus leitores, pode-se muito bem ver e sentir esse lado do artista: sua preocupação política constante em exprimir o mundo que nos cerca, até mesmo quando os assuntos motivadores dos artigos são ou tratam de abstrações.
Tal preocupação de Venâncio, aliás, foi a mesma que ele adotou como critério para escolher as onze obras que compõem o álbum. São as ilustrações mais reais, porque ilustraram as publicações que trataram dos assuntos mais verdadeiros e polêmicos, como polêmico é o Jornal de Natal.

Francisco Duarte Guimarães. Editor-Gera do semanário Jornal de Natal!l

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