sábado, 27 de novembro de 2010

Texto do Ciro Pedroza

Venâncio seu nome é coragem
"Quem sonhou, só vale / se ja sonhou de mais " (Beto Guedes/Fernando Brandt)



Conheço Venâncio dos tempos de eu menino, ele já era homem barbado, pai de família, "portador de todas as dificuldades do mundo", poeta marginal. De lá para cá já se passaram muitas noites em claro e dias de trabalho pesado, mas ele continua firme, segurando a barra de ser artista.
De sua Oficina Viva, projeto de vida que o acompanha desde jovem e ajuda no sustento diário, continuam ganhando o mundo, a cada instante, seus novos sonhos. Propostas simples, práticas possíveis. Idéias que ele defende com a energia dos que, neste final de século, ainda acreditam num ideal.
E é embalado por esse sonho que Venâncio trabalha, vive e luta. Reciclando imagens, redescobrindo cores e efeitos, desvendando os mistérios de cada material utilizado na composição de sua arte, feita a duras penas. Ora com palavras, ora com imagens, ora com navalhas, E é com esse sangue que escorre e com a força das imagens da vida, que ele recria o mundo e faz a gente se lembrar de pensar.
Tem sido sempre assim, desde aqueles tempos de eu menino e não vão mudar tão cedo. Porque esse jeito moleque que Venâncio tem meio Macunaima, meio Matheus do Boi de Reis, não vai lhe deixar nunca mais. Já fazem parte do seu jeito desengonçado e tímido que pouca gente percebe, travestida na irreverência com que ele toca sua vida e sua obra.
Venàncio que eu conheço dos tempos do Alua continua o mesmo dos festivais de Arte, dos Happenings na Galeria do Povo ( Praia dos Artistas), do tempo dos jovens poetas marginais. Não se entregou ao primeiro sinal de perigo, nem se integrou ao primeiro convite de emprego no Governo, como tantos. Permaneceu como sempre foi, onde ele sempre esteve: Artista da Vida.
Saíram de sua cabeça e da sua completa falta de estrutura material, campanhas geniais que salvaram candidatos sem bagagem e sem dinheiro; camisetas que ganharam o mundo e fundo garantiram a muita gente o prazer de conhecer outros mundos nos tantos congressos que haviam por ai, naquele tempo de eu menino. Idéias que ele executou na sua inseparável Oficina Viva, por cima de paus, de pedras e da incompreensão de muitos.
Venâncio tem uma força incrível, maior do que muita gente boa que eu conheço por ai, E hoje, novamente, tantos anos depois daqueles tempos de eu menino que o homem barbado, pai de família, portador de todas as dificuldades do mundo sou eu, Venancio surpreende com seu trabalho de artista gráfico ilustrando os artigos do Jornal de Natal, intérprete dos fatos e das idéias, tradução primorosa do significado da palavra Coragem.
E nesse momento, em que sou mais do que uma simples testemunha ocular das muitas históriaa de Venâncio, diante dessa tela fria de um computador, relembro uma frase do nosso amigo poeta Aluizio Mathias, que responde todo: ‘’ Estar na vanguarda é ter coragem’’ Venâncio sempre esteve lá. Barbado pai de família, com seu jeito de brasileiro e todas as dificuldades do mundo, firme, com seu sonho e com sua Coragem, na busca da frenética por mais uma idéia para executar. E que assim seja,

Tirol, Natal/RN, numa noite fria de maio de 1995
Ciro Pedroza

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